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Nos primeiros momentos do existir 
Quando muito pouco sobrevivia 
No pensamento fluindo em lentidão 
O criado já buscava criador 
O ser já peitava a anistia. 
No rompante deste emaranhado 
Na carência de um vazio apóstata 
A vida se arrisca numa procura feroz 
Se dando acanhado e desejoso 
Como se disso depende o amanhã. 
É dessa maneira instintiva e real 
Que a primeira tentativa religare 
Ressoou na experiência humana. 
No passado do passado que se esmigalhe. 
Tudo aconteceu antes do primeiro passo 
Antes mesmo da primeira vontade 
O homem nem sabia que já existia de verdade 
E lá estava a refletir e a buscar um senhor. 
Este registro e inclinação é latente 
Toda vida sabe, tem e sofre este clamour 
O carinho entoante faz contente 
O entusiasmo desse destino em flor. 
A primeira tentativa já nasceu 
Ele é a névoa que sombra a vida 
É a esperança que ousa a lida 
Só há outro dia porque não pereceu. 
No coração, na alma, nas mulculosas 
Uma visão inspirativa, imaculada 
Sempre dará cores fortes apaixonantes; 
É a primeira tentativa se provocando 
Gritando por todos palmos que possa 
Dizendo, provando à teimosia humana 
Que a religião ainda é o melhor pão. 
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Abrem-se asas de toda alma 
Um desejo profundo de buscar o céu 
Intenso anseio de crer num maior 
Não importa quem, nem como 
É apenas a carência seleta 
De buscar, depender, e bem obedecer. 
Religião é uma tentativa. 
Religiões, é qualquer tentativa 
O íntimo de todo homem se derrama no tentar 
É toda criação se mostrando intuitiva 
A questão é mais no espírito 
É a negação do vazio ateu que afana 
Declarando na auto voz da existência 
Que não importa, quem, nem como 
Há urgência em dizer aos outros e a si 
Que se tem um Deus, que há demência 
E por trás de toda dúvida, com freqüência 
Tranqüiliza-se pra decidir. 
Qualquer porta é caminho 
Toda estrada se leva à Roma 
A direção pouco diz respeito, 
O que a alma requer, ela doma 
O que a ansiedade se elementa 
É que qualquer oração chega, fermenta 
E todos podem sair satisfeitos. 
Que diferença pode fazer, ao fim, 
Crer com a maioria, muitos, poucos? 
Cantar aleluias com todos, ou a sós? 
Que diferença poderia saculejar 
Se o que creio é o que estou, assim, 
Gostando de compartilhar com loucos? 
Pretendendo deflorar nos pós. 
Não se consegue ver diferenças 
Só doenças, ligeiros, austeros, prevenças. 
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É como cantiga de um coração alegre 
É como sorriso de uma carga nada fútil 
A música religiosa da alma humana 
Não é flor que se negue nunca 
É, simplesmente, a coisa que se afana 
Que rosea, de forma frásea, se afunca. 
Todo mundo, em todo canto, sem exceção 
Tem fragor latente, dentro do coração 
Essa busca do divino, da melhor devoção 
São homens, toda humanidade 
Que no velho mundo ou no mundo novo 
Em cada descoberta de povos escondidos 
Religiosidade foi algo compulsivo. 
Todo mundo, em todo canto, sem exceção 
Vive sede e fome de alguma fé 
Essa tentativa de chegar a um céu é mundo 
Talvez até fora deste mundo em pé, 
Talvez o universo inteiro em fundo. 
As marcas humanas são religião, 
As vozes humanas são religião. 
Onde não há essa busca, essa tentativa 
Em quem não se encontra essa mantida 
Não há vida, não há existência, nada 
Pois a busca do celeste é prova do pensar 
O não perceber interesse pelo religar 
Tem-se a imagem da morte da fada 
É o esquecer de ser gente. 
Há uma tentativa universal para Deus 
É isso que faz o mundo acordar no dia; 
Sem a vontade do canto de alma 
Sem o jeito de assobiar na alva 
Sem a maneira de flutuar a malva 
O homem, existência é só metade 
É nada, é miragem, é “frenage”. 
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Na religião da humanidade, até na esquina 
Entre os botos que inundam toda a maré 
O ateu é desencanto, ele desafina. 
Suas palavras e seus cantos-afrontas 
As broncas e discórdias que parecem 
Tem, ao mesmo tempo, bem prontas 
Consoles para o homem crer melhor 
Controles para o tolo crer menor. 
Mas eles vêem, chegam, mostram-se 
A influência que desatinam, é pouca 
A graça que imperializam, é toca 
A atenção que cobram, se frustra 
E o ateu vai embora, desaparece 
Deixando o mundo no seu rumo em prece. 
Compensa? Será que vale a pena? 
O que fere a todos, o que fere a si 
Há bom motivo para se viver assim? 
Precisa o Deus coletivo chorar acoitado? 
O Deus divino, é digno de tal desbarato? 
Não importa, eles sempre existirão 
Sempre provocarão a fé de todos, no coração, 
São maus necessários cotidianos 
De tempos em tempos, em todo lugar, 
Carecem ser motivo “pro” povo falar. 
São amigos que pagam com a própria vida 
Queridos condenados que nos ajudam a crer 
Parentes achegados que lembram na lida 
Que o Deus que temos e cremos 
O Deus que carecemos para existir, 
É mais real e poderoso do que imaginamos 
É mais Deus do que poderíamos fabricar 
É Deus, mesmo que não nos curvemos 
É Deus, que, mais que nós, sabe amar e perdoar. 
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De um jeito muito próprio e humano 
Em clarividência sumulada e contagiante 
A alma do homem se expande aos céus 
Convivendo carente com crenças de si 
Querendo entender a febre dos “meus”. 
Não entende nada, nada compreende, 
Confuso e com boas intenções 
Ressoa veementes gritos de religião 
Que de alguma forma confortante 
Moqueiam algumas carências do coração. 
Entra tempos, saem tempos 
Sem dar ouvidos às circunstâncias 
e fazendo com que eles façam ventos 
As religiosidades bem intencionadas.... 
Alcançam multidões desenfreadas, 
Mudam atitudes consideradas efêmeras 
Enganam aqueles que parecem, nasceram pra isto 
E avançam a outras conquistas emendadas. 
Não há como discutir, como fugir deste ato. 
Boas intenções será sempre a melhor religião 
E sempre cumprirá seu papel malévolo 
O papel de distorcer a verdade na razão 
O papel de confundir o entender pelo entender. 
Misericórdia, Senhor: salva-nos deste inimigo 
Deste incômodo e ardente adversário da fé, 
Que sabe, como ninguém, desbotar o antigo 
E com favores de infernos, o novo também. 
Alança, Senhor, com tua paciência, 
Nossas almas infames, que com forte desdém 
Sempre preferirá em enganar-se, com ciência, 
Nas invirtudes da boa intenção 
Nas proezas da poderosa ingratidão 
Que nos arrasta contra ti, e tua salvação. 
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Todo mundo é religião, toda manifestação 
Da mais antiga versão, a mais recente hoje 
Da mais real, a mais fantasiosa e convexa 
Tudo é religião, até a que se contraria a isso. 
O religioso, somos todos, todo ser 
Do racional ao mais absurdo de entreter. 
Do oriente ao ocidente, nos largos da terra 
Elas, todas, se espalham com suas garras 
E denota todos os fetos do progresso, 
Empurrando, dando incentivo e fanfarras, 
Refreando, compassando os passos no lento. 
De Gualtama, Confúcio e outros mais 
De Maomé, Zoroastro e tanto faz 
Religião é flor de todo jardim de vida 
Não importa o que ensina, o que vibra 
É a forma que cantarola toda a paz. 
Onde houver respirar, há religar 
Tudo com verdades inegáveis e accessíveis, 
Tudo com seduções próprias a chamar 
Fazendo suas fileiras serem imperecíveis. 
Só as tolas, apagadas, e destituídas 
Não sobrevivem ao correr do tempo do ar. 
Todas elas cantam suas histórias e atos 
Todas elas encantam de maneira a hinar 
Multidões darão suas vidas a defender 
O que ensinam, o que vivem, o a conquistar. 
Todas são boas, até “ótimas” podemos crer 
Elas são, dizem alguns, a entusiasmar, 
Dádivas de Deus, até do Deus-criação 
Aquele que tem frutificado do desejo 
Da carência afetiva espiritual da paixão. 
Todas são sinônimas, parecidas demais, 
Ajudam os homens a se encontrarem 
Facilitam os tais, a se trocarem 
De fortes e semi-deuses de convivência 
A fracos semi-homens sem coerência. 
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Deu-se o nome de cristianismo 
O motivo real, não se consegue chegar a concluir 
Talvez um manifesto dimensionado em fé 
Talvez um jeito cultural de ser religioso 
Talvez um resultado de briga perante outra fé 
Esse nome, pra grande maioria, não tem porque. 
Mas o referido está aí, cristianismo 
A religião pequena ela chegou a dominar 
Aflorou, saiu do nada, vitória esboçou 
Chegou a dominar o mundo. 
Fabricando uma história própria e docente 
A religião do Cristo guerreiro, robusteceu 
A fé que perseguida ou perseguindo, mente 
É ela que dá ditames e não pereceu 
Está viva e sempre parecida. 
História tem sinônimo de cristianismo 
Uma não é a outra, não existe sem a outra 
Na vaidade do querer impor 
Na necessidade do fazer transpor 
Cristãos de todos os naipes e cor 
Se desdobraram por fazer com ardor 
Uma fé rica de lendas e desavenças 
Cheia de avanços e empurrões 
Que não precisa ser muito atento e crítico 
Para perceber, chorar e se enlutar 
De tristeza e vergonha. 
O cristianismo fez tudo isto? 
A fé cristã leva esta culpa? 
Não, nenhuma religião faria assim. 
Os homens, os que se dizem cristãos 
Usaram o tempo, a religião e a história 
Abusaram dessas ferramentas de poder 
Forjaram a verdade e a realidade 
E para não serem atingidos no perder 
Rotularam-se cristãos de mortandade, 
Manipuladores do morrer. 
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E se tantas façanhas de fé, povoantes do tempo 
Reclinam-se a comparar às suas marias? 
E se depois de tudo comparado, a conclusão de fé 
É de que não se diferenciam em seus karmas? 
E se esta deformante conclusão, em sua proeza 
Não fazer nenhuma diferença em alarmas? 
Isso incomodaria, isto sim, faria diferença 
Isto mudaria o mundo pra pior ou melhor. 
Dentro dessa nenhuma diferença na crença 
A fé cristã se desponta num exclusivismo 
Algo latente, algo muito vivo em sua ofensa... 
Todas se reconhecem como uma, melhorada, 
Ela se auto-destaca como única que pensa 
A que responde, a que aponta, a suficiente até. 
Todas se amoldam a um todo comum 
Ela se conforma em separado, equdistante 
A que não se mistura, a que serve “contum”. 
No ensino que deliberam aos fiéis adeptos 
A fé cristã se desponta num exclusivismo, 
Como contente, fato bem ativo pra seu futuro... 
Todas se exprimem em ritos salvadores 
Ela se simplifica a confissões de coração puro 
Apelando por “arrependimento” de cada um. 
Todas apontam práticas e atitudes para o porvir 
Ela visa que nada mais precisa-se fazer ou ouvir. 
Apesar de tudo 
Todas se esforçam por ganhar todo o mundo, 
Ela manda assim, mas descarta este fim 
Se mescla com o fato de pouquíssimos 
Chegando, eternos, ao céu de afins. 
O cristianismo, entre muitas religiões 
Não pelos homens, pela história, ou fantasias 
É a mãe delas todas, ou o parente distante, 
Está, freqüenta, e até coopera com muitas 
Mas é única, nos resultados, nas façanhas 
E até mesmo no que dá margem a que se faça. 
O cristianismo, entre muitas religiões 
Tornam-se o espírito inventivo de toda massa 
Das gentes, dos pseudos-cristãos, sem opiniões 
Que se espalham pela história de todos nós. 
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Sem tantos mistérios e segredos 
Sem rituais sobrenaturais ou mesmo místicos, 
A religião cristã é uma aventura sem medos 
Onde muitos inventam para fazê-la misteriosa. 
A história revela que o homem precisa 
De uma fé que lhe deixe assustado e temeroso 
Que lhe faça carente ou presunçoso 
O que o cristianismo não atende. 
Muitos com seu ardor, em se atender 
Criam formas de hipnose, o que não entende 
Armam ritos de magia, que muito contagia 
Fazendo brotar, com freqüência em mania 
Todos, até impossíveis, argumentos de heresia. 
Fé única em si mesma 
Que, apesar dos transtornos que sofre 
Segue em frente em meio a toda folhagem, 
Sabendo que de toda esta fantasia, 
Somente “pouquíssimos” são coragem, 
O resto é “mau necessário”, como Judas, 
Que foi, não fruto de destino, mas com avidez, 
Permissão, muito bem aproveitada, de Deus. 
Não há igual, não há como haver outra assim, 
Outra, desse jeito, teria sucumbido ao nascer 
Outra, desse jeito, teria “virado” filosofia. 
O cristianismo, em sua aparência e verdade 
É a fé, que não tem pretensões nem se abate, 
A religião, que, talvez, pelo plano ideal do Senhor 
Nunca teria deixado de ser pequena, nada 
Seria somente um grupo especial em flor 
Na adoração, auto edificação, e proclamação 
poucos, ninguém mais, passadores da porta estreita. 
A fé no Cristo, que um dia se iniciou 
Tomou formatos símplices, modestos, sem graça 
Alcançou gente pequena, mas se tornou massa 
E com estas dimensões, se conformou 
Revolucionando, mais pelo que não era 
Do que pelo pouco que sempre foi. 
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É fácil demais acusar a igreja-mãe 
Ela, no correr de sua história polêmica 
Deu motivos que até hoje geram motivos 
Para toda bronca, para ação até dos passivos, 
Para o reclame de todo contrário até nocivo. 
Se qualquer um fosse ela, como seriam? 
Se tivesse que pisar os mesmos passos, 
e tivessem que viver os mesmos crassos, 
e tivessem que pregar o mesmo novo 
e tivessem que sofrer o mesmo povo 
como seriam, como fariam? 
É provável que repetissem os mesmos 
Todos ou piores erros que ela cometeu. 
Se qualquer um não tivesse ela, como seriam? 
Se não tivessem o exemplo e males dela 
E não tivessem a perseguição e dureza nela 
E não tivessem o mundo feito na sela 
E não tivessem a política imposta na grelha 
Como seriam, como fariam? 
É provável que repetissem os mesmos 
Todos ou piores erros que ela cometeu 
Lutero, Zwínglio, Calvino e alguns outros 
Dão prova de que não seriam diferentes no agir, 
Já que os anabatistas também dão testemunho 
Que ela, são eles, na hora de se fazer fugir. 
Outros nomes, mais ou menos que estes 
Dão prova de que não seriam diferentes no agir 
Já que os pagãos também dão testemunho 
Que ela, são eles, na hora de fazer sentir. 
Os grotescos erros que cometeu 
Sato todos, inegavelmente, injustificados, 
Pois um pouco de espírito cristão, em fé, 
Não permitiria muito menos da metade do pecado 
Acumulado por ela e por muitos que a condenam, 
Em fazer criar, por todos os meios cabíveis 
Esta arte malévola de distanciar todos do amado. 
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Na fé da igreja mãe, na crendice de sua ação 
A razão principal de seus apogeus 
A mola-mestra, presente, em toda confusão, 
É o ardor pela maioria, o fragor de ser poder 
Que mobiliza, sem ternura, a força do seu ser. 
Ser senhora de todos, este desejo.... 
É fruto de uma estratégia evangelizadora? 
Nasceu de uma imposição espontânea? 
Resultou de uma proposta política? 
Produto de uma forma de sobrevivência? 
Ou simplesmente, por conveniência 
Acreditar numa atitude malfadada da prepotência? 
Só a resposta da história pra nos atender. 
Pra que tanta gente? Se 
Quanto menos somos, melhor passamos? 
Porque querer atender tantas mentes? 
O que se pretende? Quando se sabe... 
Que é impossível fazer tantos cristãos? 
O céu da Bíblia é muito pequeno 
Os salvos de Jesus são pouquíssimos 
Igreja da maioria é fantasia. 
Mas, ela existe, e para se manter assim 
Muitos erros têm se perpetuado. 
Muitos pecados têm sido cometidos 
E o que é pior.... muitos choros amargos 
Têm sido revistos e assumidos 
Só como pretexto para novos desafagos. 
Onde fica a teologia? E a filosofia? 
Onde fica a ética? E a estética da fé? 
A inspiração da maioria faz determinar 
Que todos estão a serviço do que quer, 
Tudo de um jeito a conservar 
Não importa que meios a viver 
Que o povo, a grande maioria de sempre 
Estejam nos bancos da igreja que os quer ter. 
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Séculos e séculos, muito tempo 
Uma eternidade de tempos existidos 
Marcha que não podemos nem imaginar 
Períodos enormes de histórias pra contar. 
A igreja mãe tem coisa pra dizer 
Muitos registros a confessar. 
Sabemos de muitos erros, graves ou não 
Muitas deficiências, mesmo inconscientes, 
Sabemos de posições, decisões e amarguras 
Que voluntariamente fez freqüente 
E que faria de novo, se o sol se mostrar poente. 
Sabemos disso tudo, não se há dúvidas 
São fatos e atitudes muito bem previsíveis 
Que denotam o caráter guerreiro da fé 
Movedor de moinhos e de roda-pés. 
Sabemos de tudo, mas sem dificuldades maiores 
Podemos perceber traços de boa intenção 
Traços leves ou fortes de que o entusiasmo 
Dominante nos corações dos da dominação 
Conduzira todos ou muitos dos passos 
Pelos caminhos que o futuro, no pesar 
Faz insistência mestrada em julgar, 
Não se importando nos motivos primários. 
Essa tal boa intenção, honesta ou desonesta 
Gerou como pai bêbado, os fatos que sabemos; 
E com honestidade, buscou proteger a doutrina 
E com desonestidade, buscou proteger quem ensina 
Pelo honesto, perseguiu, destruiu e suplantou 
Até deu alguns passos pelos caminhos cristãos, mas 
Pelo desonesto, perseguiu, destruiu e suplantou 
Até deus alguns passos pelos caminho cristãos... 
Séculos e tempos passaram, de algum jeito 
Os erros e boa intenção se multiplicaram 
E hoje, sem muito para se aperceber 
Vê-se, em história, passos que fecharam. 
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Na lentidão da caminhada humana 
Quando não se podia conviver mais 
Com a penagem dum cristianismo mordaz 
Nasce e floresce o que se chama bem, 
Renascimento, o libertador da fé audaz. 
Nesta liturgia chamada ao existir 
Nasceram, com o mesmo calor danoso, 
Filhos que, de todas as formas , no remir 
Libertaram passos, desafogaram os homens 
Rumo a si mesmos, a Deus, aos erros e ao mentir. 
Romperam, a religião, as ciências e o sentir, 
A política, as descobertas, a invenção e o agir; 
Todos cresceram, aprenderam e levaram 
Todos caminharam, fazendo nascer novos filhos.... 
É quando nasce a Reforma na fé, na igreja-mãe 
Nasce Lutero e todos que por ele passaram em trilhos 
Explodindo liberdade no crer em cantos distantes. 
O que se chama de “Reforma”, caldo que entorna, 
Rompe séculos de imposição, erros e comoção 
Exibe um cristianismo tão antigo quanto o oficial 
Que perseguido, se manteve escondido e mortal; 
Pequeno, distribuído, atuante e muito coerente 
Mas que fora do poder, estava fora da história universal. 
O movimento filho, libertador, alcança o mundo 
E de jeito decisivo, proclama verdades que no fundo 
Já era parte da pregação viva aos “escondidos” 
E veio a remexer todo baú dos “eu confundo”. 
Os filhos da Reforma, “aparados” pelos “escondidos” 
Não tardaram a nascer nos muitos outros cantos 
Melhorando ou não o conquistado na Reforma 
Deflagraram tentos contra a igreja-mãe dos mantos 
O que embelezou melhor a madorna 
Vivida pela inclinação da igreja para a maioria. 
O mundo estava retalhado, unanimidade findara 
No jardim, já desfolhava todas espécies de flores. 
A Renascença estava completa, até na religião 
Nesta festa, muitos convidados meio irmãos. 
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Do alvorecer da história encomendada 
Filhos, dos filhos, dos filhos, até muitas gerações 
O cristianismo penou a duras provas armadas 
O que mais fortaleceu o poder dos falastrões 
A liberdade, santa liberdade, fonte das pancadas. 
Século dezoito, os netos da Reforma também. 
Inglaterra, Alemanha, França, Estados Unidos 
A fé cristã insiste em sobreviver como convém. 
Homens, idéias, emocionalismos, fatalidades, 
Começam a surgir uma religião emocional. 
Confunde-se, troca-se, erra-se em valores novos. 
Século dezenove e, os bisnetos da Reforma 
Ampliam-se grossos rebeldes do ensino bíblico. 
Não há mais limites, e vertentes, se adorna: 
Num caminho, a emoção se joga a crescer 
Noutro caminho, o intelecto se faz merecer. 
Não se sabe se a vida cristã progredia ao céu 
Ou se atolavam as vitórias do bisavô passado. 
Século vinte, os mais grotescos descendentes. 
Tudo é possível, permitido, tudo protegido pela ética 
Tudo muito bem guardado. 
Impérios religiosos se formam em métrica 
Heresias destrutíveis dominam o mundo 
Parecendo que ninguém era mais pagão 
Parecendo que todos recantos longínquos 
Todas as circunstâncias e avesso é cristão. 
Talvez pior que antes do renascimento 
O cristianismo se amarga em erros 
Se esfacela em profundas diferenças 
Fazendo crer que é tudo, menos avencas 
Como se fosse o retrato dum enterro. 
Talvez isso seja melhor que antes 
Está aí a liberdade e o seu amargo preço 
O fruto real e doloroso, muito marcante 
Da defesa, da tese, de que todos podem ser avessos 
Ao que todos crêem, ao que dizem obedecer 
Graças a Deus por isto. 
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Há um jardim imenso e variado de tudo 
Religiões, crenças, fantasias, misticismos, 
De toda espécie de folclore espiritual. 
Nele, o cristianismo é outro diversificado 
Um jardim vivo e multiplicador de flores 
Espécies mil, na maioria, inacreditáveis. 
Desde os primeiros tempos, e os primeiros erros, 
Uma, das flores, a flor delas todas cantadas 
Faz a grande e maravilhosa diferença. 
Ela é pequena, sem graça, não atraente, 
Versátil, teimosa, insistente e muito falaz 
É a mesma em todo canto, mesma vertente, 
Com nomes diferentes que lhe são dados 
Por uma ou outra situação , ou gentes. 
Ela é bíblica, ousada, muito ética, ingênua 
Espontânea, viva, muito natural e crescente 
A mesma, que com nomes diferentes, jeitos também 
Prega e vive a mesma verdade de todas as mentes. 
A flor das flores é como o lírio, em meia lama 
Que apesar do lado em que se insere e confunde 
Sobrevive quase como única e solitária de cama 
Parecida, e até fundamentando todo o jardim 
Mas incômoda às argüições de todas demais. 
Calada, quase invisível, atravessou séculos 
Na Reforma, não sendo a Reforma, ambientou 
E até deu conteúdo ao que tudo disse e tentou, 
Foi quem acolheu os reformadores por todos lados 
Foi quem atendeu os obradores da fé. 
Todas se formatam a ela, por isso desprezam-na, 
Se inspiram no designe dela, mas desnudam-na 
É a mãe de todas, mas a mais desprezada delas, 
Os motivos que lhe imitam, são os que a provocam: 
Doutrina, prática, “modus operande”, e jeitinhos 
Tudo que faz a flor ser pacífica e atuante 
Tudo que a faz invejada e incômoda. 
Remanescente de Deus, Israel, entre nações 
Braço único proclamador de Deus falar 
Gente involuntária bíblica prometida aos porões 
Carne saborosa, providência divina a proclamar. 
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É de arrepiar o que o intelecto faz com o homem, 
Uma corda bem justa e segura que está à disposição 
Tanto serve para ir buscar água na profunda cisterna 
Quanto serve para um laço e o homem se enforcar. 
O intelecto sombrio, cheio de boa intenção 
Determinado pela necessidade da religiosidade 
Abriu-se na história da descendência da Reforma. 
As mais inovantes sugestões de ensino cristão 
Contrário a tudo e a todos, em seu conteúdo, 
Se afloram desordenadamente, sem mudos 
Fazendo o mundo respirar orgias dos saber 
Onde a fé de muitos passa a ser dirigida 
Pela experiência interpretativa de nécios 
Ambiciosos indoutos cheios de falsos argumentos 
Como cabras criadas, meninos não tolos 
Raposas vivas, coronéis da fé vacilante de muitos 
Essas feras se multiplicaram indolentes 
E se doaram a enganar a si e gratuitos 
Provocando milhares à cegueira e ao fanatismo. 
Medonhos e sanguinários em seus feitos 
Dobraram e esconderam páginas da Bíblia, 
Cravaram sem dó, pregões de crucifixo 
No fixado e conservado em sua trilha 
Pela flor das flores, o remanescente fiel. 
No máximo de sua idolatria afronteira 
Fizeram suas próprias escrituras fel 
Criaram seus próprios enigmas de bandeira 
Para se distinguirem em suas ousadias. 
Do mais grotesco disso tudo, dignos de dó, 
Idolatraram um dia, dizem que Deus é homem 
Negam o inferno, desmerecem o céu, eternos, 
Proíbem o de comer, liberam o de beber 
São pálidos, arrogantes, proibidos de pensar 
Discordam de quase tudo, em todo mundo, 
Fanáticos a ponto de qualquer prejuízo. 
Muito provavelmente, parece com certeza, 
O inferno só será o qeu se pretende ser 
Se todos, sem exceção, por lá estiver 
Do jeito que são, como cada um crer. 
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O Evangelho salvador do Senhor Jesus 
É desta forma a se considerar, no intelecto, 
Mais fácil, pra quem entende mais embaraçado 
Mais complicado, para quem entende simplificado. 
O Evangelho é loucura desmedida ao extremo 
Para a inteligência mecanizada das religiões 
Para a fé racionada de dúbios corações. 
Parece até que se fosse algo possível e coerente, 
Que a razão é o grande selecionador celeste 
Quando a visão do entendimento é limitada 
E somente uns “escolhidos” recebem contentes 
Por iniciativa, somente, do Senhor Deus 
Nisso, poderia ser, que a alma se atraia na fé 
Mas o intelecto lhe trave a direção do pé. 
Deus olha do trono, chora e ri do homem 
Ri dos feitos, das preferências, e dos achados, 
Das tolices, meninices e topadas que tomem. 
Mais ri, porque fazem tudo isto, com entender 
Não por ingenuidade, mas por determinação 
Muito mais por ruindade, teimosia e coração. 
Ele chora, com gritos de dor pelas conseqüências 
Pelo amado distante e amargo, que por tolice, 
Por soberba, brutalidade, e forte demência 
Se afasta cada vez mais por tendência 
Para o inferno de intelectualismo 
Para o inferno do intelectualismo. 
No mal do mal eterno, muitos já, habitarão, 
Complexados, solteiros, religiosos, mundanos 
Homens, filhos, viciados, capitalistas, ateus 
Todos eles e todos aqueles que, pela razão 
Se oferecem a crer pelo que dizer saber 
Se dedicam a ser pelo que acreditam não ser. 
O evangelho, o mesmo fácil que salva muitos 
É o tropeço, com sua simplicidade, de muitos 
É loucura, com o inexplicável, para os sábios 
Este é o aviso encarnecido da Bíblia 
A mesma que parece tão entendida a eles 
Que, por eles, têm presságios de torpes lábios. 
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“Santa” arma de destruir, reverência da razão 
caminho estreito de plena e feliz provocação 
rasteira moda que sabe se conduzir no macio 
este é o intelecto, assim é esta feição. 
Um hino lhe seja cantado com maestria 
Exaltação ao potencial que nos faz animal 
Louvores ao que somos capazes de racionar 
E que com brandura se afana perenal. 
Este arsenal estonteante, e bem confuso 
Que salva, liberta, que se desenha intruso 
Faz-se faca de dois gumes, bem penetrante; 
Como automóvel, com suas peculiaridades, 
Nos leva com rapidez ao porto seguro 
E na mesma rapidez nos empurra ao abismo. 
Uma, é tremenda diferença, o maduro, 
O intelectualismo tem matado mais. 
Esta amarra que poderia aconchegar 
Fará o inferno ser pior, ser mais doloroso 
Fará o lamento eterno ser mais venenoso 
Será estopim de fratura com comoção 
Quando afasta da porta estreita e fácil 
Que o evangelho providencia de antemão, 
E empurra para a larga, também complexa 
Que o evangelho tanto alerta, na contramão. 
Essa razão, sem razão, maluca de verdade 
É a dose certa pra gerir o andar alheio 
O ensaio astuto da criação, pra com malícia 
Todo ser até, por intuição, encontrar-se no meio 
E com performance, sobressair na mídia. 
Essa razão desnaturada, quando de bela se faz feia 
Retrato expurgado dum passado ostentoso 
Dum presente acamado, dum futuro duvidoso 
Cantado por delícias aparentes, fantasias 
Armadilhas fatais, enlevos de cores finais 
Que desnudam enfeitiçadamente 
Toda realidade, toda comodidade 
Os favores mais notáveis da mente 
Que se envergonham de ser gente. 
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Há, um outro fator que faz história 
Que eleva a religião à arbitrariedade 
Que defuma e maqueia a fé da multidão 
Deformando o sentido primeiro do crer 
A emoção, a emoção, a emoção. 
Já contagiava na Idade Média, em mosteiros 
Já extasiava antes e depois da Reforma, 
Ela já ditou muitas espécies de heresias 
Já demonstrou muita falsa fé de “borna” 
Homens aos milhares estiveram se enganando 
Ou matando outros pelo que cria 
Ou morrendo pelo que fazia. 
Propriamente, a emoção cadavérica da fé 
Rompeu as desgraças da história 
Dos Wesleys aos demais de igarapé, 
Dos Fineys aos ovais sem memória. 
Em cada tempo, cada vez “mais pior” 
Esse veneno condizente faz vítimas da fé. 
Os todos avivamentos da cronologia 
Da igreja mãe aos descendentes da Reforma, 
Se posicionaram advindos dessa coisa, 
Aconteceram, com seus devaneios místicos 
Fundamentados nesta urina que entorna 
E fizeram adeptos do tempo e fora dele 
Os que viram, viveram, contribuíram 
Os que souberam, divulgam e encantam 
Emoção é essa dor degradante. 
Século vinte, o maior de todo o sufoco 
Este laxante “dométrico” de fanfarra 
Deflagra-se e aborrata o mundo todo 
Se desmagra e arrebata a dor que amarra 
Explode sem verdadeira consciência 
Eclode itinerante pelos cantos da terra 
Parecendo, falsamente, que a fé chegou 
Mas reclamando com sincero interesse 
O inferno que pretende e derrubou. 
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Navalha afiada ao extremo de cortante 
É o confundir emoção com devoção espiritual 
É o confundir comoção com o ardor real 
Que o espírito do homem precisa no existir. 
Ela entorta qualquer verdade montante 
Ela abre caminho pra novos falsos e antigos 
Ela machuca os passos concretos entre amigos. 
Entender o “arrepiar” como sinal de fé 
Entender o “sentir” como marca de ideal 
É mastigar com facilidade a comunhão 
É definir o falso como verdade atual. 
Andar por este espasmo de confusão 
É criar prazer em se enganar e levar 
Que muitos contagiados encontrem seu pesar. 
Um bom político, seria um grande espiritual 
Um bom psicólogo, seria um grande religioso 
Um bom apresentador na mídia de então 
Seria, com avidez, um grande maestro desta emoção 
Hitler seria um papa, e o mundo inteiro 
Com todas as suas diferenças, uma só religião. 
O falar manso, o ser sensível, o ser choroso 
Seriam características que os diabos precisariam 
]para colocar o homem no céu. 
A Bíblia não é emotiva, fala, não conduz a choros 
Ela toca, remonta, transforma, incomoda 
Ela faz, concretamente, muito mais, no interior 
Não usa de “arrepios” ou “sentir”, é espiritual 
A Bíblia, Palavra de Deus, condena emoção como meio 
De entender as atitudes a serem tomadas 
De compreender a vontade e decretos do criador 
De empreender a condução malévola da adoração. 
Este capeta instrumento do engano plural 
Esta navalha de fio afiado e dominador 
Existe para atrair multidões ao lagar da morte 
Existe para justificar atitudes dos fortes 
Existe para conservar os tolos no aprisco 
Existe para agradar a ansiedade dos confiscos 
Existe para arregimentar um grande exército 
Para nunca mais sentir nada no engodo do inferno. 
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Rica, sábia, o próprio diabo em pessoa 
Menina de aparência dócil, ingênua e agradável 
Garota alegre, prazerosa, cheia de vigor em si 
Estonteante rapariga de olhar confortável. 
A emoção é a dor que todos querem ter 
É a droga pesada que todos querem viver 
É o vício angustiante que todos esperam. 
Ela realiza toda comovente e atrativa religião 
Canaliza e escraviza as marcas de uma atenção 
Carefando, com astúcia, refazendo afeição 
Fazendo tudo ser o que não é, uma podridão 
Enganando multidão de todos a perecer. 
Com seus tentáculos contaminantes e ruins 
Se esbalça nas trevas do saber da maioria 
Na distância faminta dos caídos serafins 
Encorajando amigos e inimigos que caberia 
Num estojo de “trouxas” de idéias afins. 
Longos tentáculos, cheios de muita razão 
Capazes de, não só enfronhar muitos ao mal 
Mas, também, fazer contrários se sentirem 
Como os mais errados dos homens vivos. 
Ela não produz cegueira, é a pobre visão em si 
Não produz escravos, mas é escravidão em pessoa 
Quem souber manipular, saberá alcançar o mundo 
Todos estarão a mercer dos seus intentos 
É a mola que alavanca qualquer atitude 
É o botão mágico que faz males, inventos 
Que entusiasma o morto às virtudes. 
Emoção, música nociva, falsa e traiçoeira 
Que leva o homem ao que não quer ou acredita, 
Que faz parecer uma cor, o que é de outra 
Que comove ao máximo, sem que motivo haja. 
Transforma o líder em déspota prepotente 
Transforma o crer em aberração de vida 
Transforma a pessoa em massa de gente contente 
A emoção é uma doença tentadora e libida 
A emoção é uma prensa de cachaça aguardente 
A emoção é uma ofensa a todos envolvidos 
Usa-a, o desonesto consigo e com os outros 
Usa-a, o confesso a querer enganar a Deus. 
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Estamos aqui, agora, não há como escapar 
É preciso nos render a esta realidade 
Conosco estão todas as gentes, todo mundo 
Pessoas mil, de todos os jeitos, humanidade 
Miríades de gostos, planos, sugestões 
Carência urgente de boa convivência 
Qualquer jeito de um relacionar de visões 
Que produza progresso, e muita conveniência. 
Tudo é política, até a ausência dela, é política 
Do nada que uma atitude venha demonstrar 
Dum tudo que uma febre venha arrastar 
Ela é a necessidade temporal e artística 
Que a co-existência, exige em seu lidar 
É a fonte “romeira” que sempre renasce 
E que com gosto de poeira se desfaz-se 
De alguma formar, contribuindo em razão 
No manuseio de relações que trace. 
Numa canoagem frenética, mesmo com disfarce 
A política arrasta, com fúria pertinaz 
Todo concorrente, todos envolvidos 
Fazendo marchar com a mesma audácia 
Tudo que lhe caia na corrente que passa 
Tudo que seja atingido pelo seu curso massa, 
É esta força incontrolável, cheia de artimanhas 
Cheia de jeitos e trejeitos, honestos ou não 
De se montar bons ou mau arrojo 
Criativos remos e lemes de se chegar de mão 
No fim buscado, na maneira melhor ao povo. 
Somos políticos, vivemos política, é a política 
Apatia ou simpatia é extrato dela 
É efeito que ela sabe assanhar em nós 
É estreito que nela cabe amarrar em pós. 
Somos políticos, vivemos política, é a política 
Como traves que delimitam a existência 
Como frases que facilitam a demência 
É ela, nossa amiga, inimiga, divertida 
Que faz homens inteiros se camuflarem 
E com roupagem despertadora e ardil 
Sufoca o bem e o mal numa só palavra gentil. 
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A angustia que mancha a beleza da arte 
Que defuma a prática do gerenciar a lida 
A seiva da convivência social, nunca a parte 
Que a necessidade nos cobra para a vida: 
Os fins justificam os meios a trilhar? 
Ou os meios é que justificam os fins a moldar? 
A política, os políticos sempre estão a sofrer 
Diante do calor desta dúvida de Maquiavel 
Tendo que escolher entre um destes correr 
Explorando e se preparando de plantel 
Para os preços e conseqüência que venha ter. 
Quem deve tomar a decisão final da lide? 
A consciência e suas ardilosas armadilhas? 
O bom senso, mesmo que seja toda cultural? 
O exemplo moluscado de outros em bandilhas? 
A religião e o seu ideal utópico e confidencial? 
O povo, e o que dizem carecer nas mantilhas? 
O momento, não importa o que lhe traga? 
O conselho, e a visão de quem se aliena? 
A sorte, a porta que primeiro lhe bata à porta? 
Ou a determinação do superior ou do aliado? 
Quem deve tomar a decisão? 
Os fins reclamam direitos 
Os meios reclamam direitos 
Os dois têm suas virtudes e defeitos. 
Os dois têm suas graças e malefeitos 
De um lado, muitos serão satisfeitos 
Do outro, muitos serão cabrestos 
E a política saberá tocar a vida de todos 
Saberá endumentar fortes tendências 
Que com sede de vitórias se aventurará 
A mil peripécias infantis ou macabras. 
A política não perdoa, ela trás resultados 
Mesmo que não importe legítimo ou legal 
Ela vai cobrar atitudes visando meio ou fim 
Mas saberá recompensar os doutos com serafins. 
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A pesar de todas as políticas que existem 
De todas as manhas que possa haver 
Ainda há uma, a maior de todas que persistem 
É a que alavanca todas, faz alma de se ter 
É a política do não provocar, do respeitar 
Do, mesmo opor, agir com classe 
Fazendo tudo, mostrando não desmerecer. 
Esta manobra política, tão fácil, tão difícil 
Somente duas pessoas sabem como convir 
Os sábios e os astutos, os bons e os maus 
Aqueles que sabem, até discordar com tolerância 
Que busca vencer o inimigo com fuga do caos 
Que rebusca oportunidades sem atiçar a ganância 
Agindo sabiamente até o objetivo final. 
Há, também, aqueles que não sabem nada disso 
Mas são motivos pela estratégia do depois 
Que engolem mosquitos e elefantes, o vício 
Que bajulam, falsificam até a si mesmos 
Agindo astutamente até o objetivo final. 
Essa melhor política, a mãe de todas as outras 
É como um segredo do que faz grande diferença, 
Que levanta e abate os vários aventureiros 
Que perpetua ou esquece os tantos cantareiros, 
Segredo que poucos sabem encontrar 
Que menos podem entender pra viver 
Que raros são capazes de se entrilhar 
É um segredo público restrito a nenhuns. 
Nas cantadas politiqueiras dos arrastões 
Os vivos saberão sobreviver com este princípio 
Eles saberão se conduzir pelos bordões. 
Enquanto os mortos usarão outros passos 
Contemplarão outros jeitos de se manifestar 
Derramarão seus leites, intolerantemente 
Como sendo o mais prudente que consigam 
Como sendo o mais ágil que bendigam. 
Estes, se não estiverem já mortos 
É certo que morrerão no tempo ou na política. 
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Um jeito estranho e bonito de viver 
Esse jeito medonho de praticar poder 
É arte bendita e contagiante de armar 
De carimbar manobras de confortar 
E ao mesmo tempo dizer amor. 
Modelagem de fantoches 
A política se refaz de cinzas mornas 
Com desdobraduras de animal imponente. 
Os homens que vivem sob tarjas 
Semideuses desinteressados da realidade 
São pregões enfeitiçados de fardas 
Saboreadores famintos de falsas verdades. 
São artistas 
Tanto no jeito de querer o que não querem, 
No jeito de pensar o que não pensam 
De falar o que jamais falaram. 
São artistas benditos 
No conseguir ludibriar todos órfãos 
Homens e mulheres desejosos de crer 
Ardentes defensores de qualquer mentira. 
Essa arte bendita, é bendita... 
Ela faz “das tripas, coração” 
Ela faz do caos um todo paraíso 
Faz do perigo, um dote de mobilização. 
Essa arte bendita, é bendita... 
Faz humanos se tornarem senhores 
Mais poderosos e mais dignos de esperanças 
Do que o próprio Deus do povo, 
Essa arte bendita, é bendita.... 
Ela é a própria camuflagem essencial 
Que todos querem, todos precisam, 
Urgente pílula que exprime pontencial 
E que em pressa de quem urge futuro 
Faz arrasoar as promessas do celestial. 
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Instinto excêntrico de fazer o poder 
Manuseio de gerenciar vontade dos outros 
Flâmula mosteira de saber o melhor 
O jeito perfeito e miraculoso de viver 
E fazer com que todos vivam. 
A política tem outro poder em excelência: 
Fazer homens encapuzados limitados, 
Se sentirem sobrenaturais à demência 
Homens que fazem de estúpidas margens 
Armas de manuseio e confronto de decência. 
O suor do político cheira dominação 
Cheira árduo entusiasmo de limítrifes 
Uma espécie de aroma de translouca paixão. 
Quando se derramam pelas faces patéticas 
Carregando ansiedade e choro de fome, 
Merece atenção, infanta e mísera atenção. 
Ao correr pelas rugas que parecem expressão 
Fazem-se donativos, empréstimos de carinho 
Que eleva os sentimentos, contagia todos 
Inspirando esperanças e feitura de ninho. 
Da mesma forma, são as mãos deles 
A direita ou a esquerda, falanges ativas 
Estendidas para buscar, receber, apreciar 
Para denotar e robustecer palavras. 
Suas mãos, muito vivas e delinqüentes 
Aprontam-se com rapidez e primazia 
Sempre que a necessidade se observa 
Sempre que a necessidade se observa 
Sempre que, se dela depender, a formar 
Moldar situações de suas manias. 
Dominação, de uma forma ou outra 
Por simples excelência de alma, 
A política se derrama numa existência 
E como máscara, deslumbra bem 
Fantasiando toda verdade que vença. 
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Desejada, flor mimosa de encantos mil 
Arte montada que exprime ardor e fluência 
Que sabe como armar e desarmar cantil 
Jeitos e mais jeitos de trilhar a excelência. 
A política, esse caminho delicioso atraente 
Um jardim felizardo, esguil e auto-suficiente 
É, e tem sido, um retrato vigor da gente 
Em tempos e tempos se mostra contente 
Parecendo que não há do que desesperar 
Pode confiar, pode descansar, pode dormir. 
A superioridade da arte de prover governos 
É esta mancha que não suja nem suga 
É esta prancha que não faz fuga nem ruga 
É esta franja suportável que macula 
Convicções, todas as pregações 
As mais variadas maneiras de aberrações 
Os políticos estão acima da política? 
Os políticos são a própria política? 
Um é o outro, ou o contrário do que diz? 
Na verdade, a política é superior aos homens. 
Ela é formada por eles, com seus defeitos 
Mas é e está acima deles e do pensar! 
Não há ser, sem esta arte de ser 
Não há parecer, sem esta parte do crer 
Não há crescer, sem esta face a beber 
É ela que nos inspira, complica e domina 
É ela que faz homens serem monstros 
É ela que trás fantoches em morfina 
É ela que refaz motes darem prontos 
Ela é muito mais que se possa observar. 
Religião que parece muito poder 
É pouco, é nada, muito inferior a ela 
E todas as vezes que ditou o mundo 
Vestiu a camisa da arte do domínio sem par 
Para ser o que foi, para ser maior que ela 
Precisou esvaziar-se e conteudar o politicar. 
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Filhos da política, filhos sofridos 
Gente que povoa o infinito pagão da vida 
Que consola uns aos outros com dedicação 
Que entrega com ânsia sua prevaricação 
Fazendo festa de cada tempo da lida. 
A maior efusão de sua frenesi enfática 
Os políticos conhecem como ninguém: 
São chicles em toda beira de calçada 
Quanto mais se pisa se fazendo bem 
Mais grudam de paixão e mãos atadas. 
Como “mulher ruim”, na palavra de tantos 
“choram pr’apanhar”, todo dia assim, 
e quanto mais apanham, mais em prantos, 
são fiéis, dedicados, menos interessados em si 
como “mulher, menino e cão”, outros dizem, 
precisam apanhar todos os dias no sono 
pra nunca esquecer, na vida, que algum político é seu dono 
Há, ainda, muitas outras dinastias nestes sofridos 
que desenham um perfil sombrio e desatento, 
e que os políticos, também, sabem como ninguém: 
são aqueles que apesar de serem alvos certos 
metas vivas e primárias de uma “esquerda” 
que se lhe coloca como frente representativa, 
gente capaz de pagar alto preço por eles, 
desde a vida, a integridade, o bom senso, 
desde os bens, o tempo e os ideais de vida, 
eles buscam, sempre, sua própria “esquerda”. 
Na “direita” que, está a seu lado, do lado 
Parecendo que é um deles, arte deles. 
Quanto mais a “esquerda” da frente 
Se derrama a oferecer-se como prostituta 
Mais a “esquerda” do lado o domina 
E o povo sofrido, vive de esperanças 
Também vive de desilusões efêmeras 
Pois na primeira oportunidade esquece tudo 
E reelegerá sua “esquerda” de mentira. 
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Povo sofrido, pra que serve esta goma? 
Pra que serve tanto grude nojento? 
Pra quem serve essa gosma irrisória? 
Serve, serve muito bem, muita utilidade. 
Como o médico que tem a cura 
Mas enriquece com a doença ingrata 
Que seu paciente rico lhe insiste a cuidar. 
Os pseudos cuidados a este povo agorento 
Gera muitas alegrias a quem de direito; 
A dívida moral e até anormal, crescerá 
E todos se voltarão em agrados a desejar; 
Sobras do orçado terá que encontrar dono 
E a próxima campanha estará garantida, 
E os gastos de ajudas, estas serão remetidas, 
O conforto e futuro, a família será mantida. 
Ainda assim 
Como o boi que de tudo se aproveita bem 
O povo sofrido, por fim, ainda tem serventia; 
Como currais bem firmados e certos 
Por último e depois de tudo: motivo de reeleição: 
“Preciso continuar esta obra”, gritam aos pulmões 
“Podem continuar contando comigo”, suas orações 
e os danados continuam, se perpetuam, 
tudo recomeça do mesmo jeito, nas canções 
este povo continuará a penar 
ora, pra que que serve este povo sofrido? 
Pra quem que serve este entojo comido? 
Serve pra tudo que seja contra eles mesmos 
Serve pra ser ignorante e desinformado 
Prá ser mula sem cabeça, crespos 
Encabrestados de rabo preso a feder, 
Serve pra tudo que seja contra eles mesmos 
Serve pra ser informante e desafinado 
Pra ser gula que mereça os ferpos 
Arrebatados em cabo teso de ofender. 
Serve pra tudo que seja contra eles mesmos 
Pra tudo que seja contra eles mesmos. 
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Há quem creia que Jesus determinava 
Na verdade, ele avisava, talvez até alertava: 
O povo sofrido sempre haverá 
“Eles sempre estarão carentes, convosco”. 
Fazem parte da paisagem de todos os tempos 
Participam da pintura de todos os quadros 
É or que nunca há de faltar. 
Não podem deixar de existir 
A beleza, o encanto, a forma, a vida depende deles: 
Fazem e vivem romances 
Fazem, inspiram e vivem toda arte. 
Não podem deixar de existir 
São pedras fundamentais na construção 
São pedras que não falham na contra mão 
Extensas paredes e coberturas da casa 
Da habitação que a humanidade sonega a si. 
Não podem deixar de existir 
Para que os espertalhões, os medalhões 
Não entre em extinção, em riscos, 
E o desnível social, a ma distribuição de riquezas 
Continue, se agrave, se acentue 
E os ricos continuem abastados 
E os pobres continuem, como felizes são, 
Carentes, dependentes, emergentes 
Gente sem nome, massa volúvel 
Mendigos robustos e complexados 
Que não acreditem em complicados. 
Não podem deixar de existir 
São como ar que todos carecemos 
Como arroz, que todos merecemos 
Como vestir, que nos oferecemos 
Como trouxa que nos amanhecemos. 
São, o que não podemos deixar de ter 
São, o que não podemos deixar de ser 
Não podem deixar de existir 
Não podem deixar de se ferir. 
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