De Costas Se Vê Melhor
Há algo engraçado em tudo isto, na vida que se vive de bem;
quando de costas, ao que assisto, eu compreendo também,
e num passe de mágica, que parece fazer enorme diferença
a conversa se torna prática, uma historia que me convença;
e, em palavras, traduzo o que me convém.
É poesia, posso nela me esconder, no que tenho pra sonhar,
papel e caneta pra escrever, a vontade que não quer calar;
são gavetas empalhadas que os versos conseguem abrir
arritmias engraçadas que meus confessos insistem sentir.
Sou poeta que não sabe o prosar, nem no que se prevenir.
O poema que fala mais, de costas, ele se amolda melhor
e, como dardo que se apraz, como grito que se fala pior,
a melhor rima vai se ajustando, ela vai se fazendo perfil
e dizendo o que se vê, se impondo, em bom e sincero ardil,
fazer poesia é uma trama que nos tira da mentira senil.
Sem olhar o que se pretende, vendo o que se quer entender
todo poeta se surpreende, vendendo o que gosta de fazer:
falar de vida, sonhar com ela, contar a todos o quanto é bela,
fantasiar a dor, redesenhar o sofrer, mostrar-se encantador
torcendo que seus leitores saibam melhor do viver.